Foi precisamente há dois anos atrás, em Novembro de 2007, que chegava à PlayStation 3 e Xbox 360 o primeiro título da série Assassin's Creed. Na altura, o título era esperado com grande ansiedade e após o lançamento as opiniões ficaram muito divididas: se, por um lado, o título apresentava alguns interessantes elementos, por outro lado, o fato de ao final de poucas horas o título começar a ser repetitivo e aborrecido, fez o jogo perder algum valor.
Com isso em mente, a equipa da Ubisoft Montreal queria redimir-se e trazer até nós uma melhor experiência de jogo. É assim que chega agora até nós Assassin's Creed 2. Neste novo título, o nosso personagem central, Desmond Miles, escapa com Lucy de Abstergo, e com um Animus 2.0 optimizado conseguem conectar com outro antepassado da nossa personagem.
Estamos em 1476, onde Ezio Auditore de Florença, terá de mudar a sua vida descuidada e extravagante para vingar a morte de seu pai e irmãos. O segredo obscuro de seu pai Giovanni é revelado, e ele vai tomar o seu papel para garantir a desejada vingança. Mas também vai testemunhar a guerra entre as famílias, com os templários, os Medici, os Borgia e conspirações secretas no ar.
Estamos em pleno século XV, para ajudar Ezio a cumprir a sua missão. É interessante ver que no título contamos com a ajuda de algumas personagens históricas, que interagem na história, de uma forma ou outra, como, por exemplo, Leonardo da Vinci, que nos irá ajudar com gadgets em certas ocasiões.
Começando pela jogabilidade, este foi um dos pontos que gerou maior controvérsia no primeiro título da saga. Em traços gerais, podemos dizer que Assassin's Creed 2 é mais completo que o primeiro, com mais missões, mais acções, mais opções, mais liberdade para o jogador decidir se quer uma coisa ou outra, e novidades que trazem uma maior profundidade ao título.
Felizmente, a Ubisoft adicionou novas e mais coloridas acções que Ezio pode realizar face ao anterior título: desde contratar cortesãs para que os homens se interessem por elas, através da adesão a um grupo de pessoas que passam perto de nós, sentarmos-nos num banco, atirar dinheiro ao chão para levantar polémica e mais facilmente poder escapar, atirar bombas de fumo, ou podemos mergulhar na água para os soldados nos perderem do seu nível de vista e reduzir o seu nível de pesquisa, algo novo na saga. São acções que nos trazem mais liberdade, algo bastante melhorado face ao anterior título.
O mini-mapa no canto do ecrã indicará os pontos de interesse tanto para o avanço da aventura como para tarefas menos importantes. Também poderemos encontrar algumas missões em que temos de contratar mercenários para nos ajudar. Em algumas situações necessitamos de entrar em áreas com recinto fechado, e para chamar a atenção dos guardas utilizamos esses grupos de forma a que os guardas se centrem sobre eles e nós possamos entrar e abrir a porta. O sistema é simples, apenas temos de mostrar aos mercenários o objectivo e podemos ordenar-lhes que nos sigam ou que ataquem.
Também encontraremos algumas tarefas que são das melhores fases do jogo: temos de encontrar os seis selos dos assassinos para que possamos desbloquear e utilizar a armadura de Altair. Para isso, encontramos os túmulos dos seis assassinos e teremos de pegar no selo de cada túmulo. Estes túmulos são distribuídos por cidades, sendo que a mecânica para chegar até eles é do mais puro estilo de Prince of Persia, baseada quase inteiramente em plataformas. Durante o jogo, poderemos encontrar várias fases, desde acção furtiva a plataformas, pelo que a variedade está assegurada.
Outra das novidades do jogo é que temos a nosso cargo a vila Monteriggioni, propriedade do nosso pai e que cuidava o nosso tio. Com o dinheiro ganho/roubado, podemos e devemos fazer florescer o comércio da cidade, visto que assim iremos receber periodicamente dinheiro que poderemos utilizar para adquirir mais armas, armaduras, etc. A mecânica da administração da cidade é simples, assim que será apenas uma questão de sabermos por onde começar e qual negócio prestar mais atenção para nos dar mais lucro.
Outras missões que servem para melhorar as estatísticas e para conseguir dinheiro são, por exemplo, a perseguição dos ladrões em cada cidade, corridas de cavalos, etc. A variedade é maior do que no anterior jogo, o que é bem-vindo. Um detalhe importante para uma melhor realização das missões tanto primárias como secundárias é a nossa reputação. Isto é, se estamos constantemente a roubar, empurra ou lutar com as pessoas, isto fará com que os guardas nos vigiem mais constantemente.
A IA do inimigo é um dos pontos negros do jogo, uma vez que a sua resposta deixa muito a desejar em muitas ocasiões. A melhor coisa a fazer quando vamos atacar é subir para um telhado e ver como os inimigos vão subir um a um, todos eles, sem medo. Não há tácticas de ataque, mas sim erros no comportamento totalmente evitáveis, e realmente o problema está na grande quantidade de inimigos que temos para atacar e não na eficácia dos ataques deles sobre nós.
Os controlos de Ezio para correr/saltar também podem ser um pouco confusos em certos momentos. Há certos momentos em que a nossa personagem saltará, ou não, e não sabemos porquê. Na nossa opinião, a culpa recai sobre o sistema de distribuição dos controlos, e colocar um botão para saltar e correr pode trazer confusão. E isto poderia ser evitado. É verdade que nem sempre falha, mas é irritante, por exemplo, quando estamos à procura dos túmulos, numa momento de plataformas (com muitos saltos), e o controlo falha fazendo-nos cair.
Passando para o aspecto visual, Assassin's Creed 2 oferece um nível técnico e visual bastante bem conseguido, com as cidades a mostrarem todo o seu esplendor à nossa disposição, com um grande número de pessoas a vaguear nas ruas, tudo com um bom grau de detalhe. Em primeiro lugar, o jogo mantém o estilo e linguagem visual do primeiro título, com os menus bem elaborados, e reminiscência "high-tech", com sequências de ADN que representam toda esta parte e onde pudemos apreciar o desenvolvimento da acção. Vemos todos os elementos, personagens, eventos, missões e desenvolvimento da história sem qualquer problema. Uma das marcas de Assassin's Creed em termos visuais.
Passando agora ao que o motor gráfico do jogo, a qualidade do primeiro título da série foi mantida e melhorada em alguns aspectos, mas há outros que ainda necessitam de optimização.
Para começar, a modelagem de Ezio / Desmond não é nada má, e embora o protagonista mais perto do nosso tempo não tenha muitos detalhes nas suas roupas, Ezio está bastante bem trabalhado. Pode-se verificar como foram cuidadas tanto as proporções como as roupas, armas e armaduras. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo para os outros personagens, mesmo os mais próximos como Desmond. Lucy, Giovanni, Leonardo da Vinci e outros personagens que aparecem continuamente ao longo da aventura, também não tem o acabamento que tem o protagonista principal.
Destaque negativo para o pouco trabalho feito no que diz respeito às texturas faciais, com nenhum dos personagens, pois todas as suas características como a cara para mostrar surpresa, raiva, etc. são muito básicos e mostram que há claramente uma boa margem de progresso possível. Seguindo com as texturas, a nível de jogo, podemos dizer que cumprem perfeitamente a sua tarefa a nível de vestuário, bem como em ambientes mapeados, edifícios, solo, etc ... as cidades típicas italianas da época eram muito semelhantes no seu contexto, e isso foi respeitado claramente no jogo. No entanto, encontraremos no jogo, bem diferenciadamente do resto dos edifícios, os edifícios emblemáticos de cada cidade e vila, bem modelados e reconhecíveis à distância.
Desde logo, subir a qualquer torre ou ponto alto para avistar a cidade desde as alturas, segue sendo um dos momentos mais trabalhados do jogo, com uma enorme suavidade de frames constantes a todo o momento, vendo-se inclusive quilómetros de distância renderizados diante dos nossos olhos.
Como havia referido previamente, o nosso personagem principal encontra-se melhor trabalhado que os restantes. Assim, enquanto o nosso protagonista tem uma variedade espectacular de movimentos, tanto quando executa escaladas, como em luta, o movimento dos outros personagens é mais rígido/robotizado.
Entretanto, temos de referir principalmente o excelente trabalho no que diz respeito às cidades e vilas. Ao longo do título vamos encontrar cidades como Florença, Roma ou Veneza, e as áreas rurais como a Toscana e Monteriggioni, com um acabamento que podemos assinalar como o mais espectacular em todos os sentidos. Primeiro, pela recriação quase perfeita da distribuição de edifícios nas cidades. Como pode ser visto ainda hoje, Veneza, Florença, Milão, etc. São cidades com uma distribuição muito em xadrez, e Assassin’s Creed 2 permanece fiel ao seu espírito para nos dar uma maior imersão.
Em suma, visualmente Assassin's Cread 2 é um dos melhores jogos dos últimos meses. As cidades são espectaculares, a sua distribuição é muito fiel à realidade, foram cuidados detalhes como a iluminação, as animações de Ezio (embora as dos restantes falhem um pouco), e destaque para os vestuários, muito bem conseguidos. Por fim, apenas podemos recomendar que vagueiem um pouco pelas ruas de Veneza e apreciem o árduo trabalho da recriação da cidade. Espectacular.
A nível sonoro, podem contar com uma banda sonora a cargo de Jesper Kyd, criador da banda sonora de jogos como Hitman, o primeiro Assassin's Creed, Splinter Cell: Chaos Theory e Unreal Tournament. Para as músicas, foram utilizados temas da época com a adição de alguns movimentos mais rápidos e tensos para os momentos de acção. Também para as sequências cinematográficas este banda sonora contribui bastante. Um bom trabalho.
Para concluir, Assassin's Creed 2 consegue pegar na fórmula original e melhorá-la. Com mais movimentos e cenários mais diversificados, AC2 apresenta assim uma jogabilidade menos repetitiva e mais diversificada que anterior, com vários novos interessante elementos. AC2 apresenta-se ainda com um nível gráfico bastante bem conseguido e uma fantástica banda sonora a acompanhar, tudo isto no meio de uma boa história onde não faltam cenas de amor, vingança e traição. Se gostaram do Assassin's Creed original, então certamente não vão querer perder este novo título. Para todos os outros, que procuram um jogo de acção interessante, com boa história e visual, então Assassin's Creed 2 é sem dúvida um excelente título.
Pontuação LusoGamer
9.1
Ter 22 Out - 17:10 por vasco camara
